DILMA VIVE PRIOR MOMENTO E REVÊ ABORDAGENS POLÍTICAS E ECONÔMICA
A presidente Dilma Rousseff, no pior momento
de seu governo encurralada por uma economia fraca e ressentimentos na base
aliada, terá que adotar um tom ainda mais conservador na política econômica e
desencantar as promessas de maior interlocução com os partidos que a apoiam.
Diante de
um cenário em que os obstáculos à sua frente parecem se avolumar, o governo
Dilma já começou a trilhar um caminho mais ortodoxo na política econômica,
embora analistas afirmem que um aperto fiscal ainda é o elo perdido no conjunto
de medidas adotadas nas últimas semanas.
No
Congresso --terreno pantanoso para a presidente desde sua posse--, o governo
tem buscado alterar parte do receituário adotado desde janeiro de 2011, quando
a presidente tomou posse. Mas como Dilma acenou com mudanças na relação com os
aliados em outros momentos, deputados e senadores ainda estão ressabiados se
novamente não estão diante de uma promessa vazia.
Parte da
mudança passa por aumentar o ritmo de liberação de emendas parlamentares,
negociar previamente com as lideranças temas mais espinhosos e ampliar a dose
de carinho com os aliados, levando-os em viagens e inaugurações pelo país,
repartindo parte do capital político de Dilma.
"Esse
é o pior momento do governo. Se você pegar o bloco dos oito anos do governo
Lula e dos dois anos e meio do governo dela, pior do que esse momento só mesmo
aquele processo do mensalão", disse à Reuters o cientista político Carlos
Melo, do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa).
Após
crescer apenas 0,9 por cento no ano passado, a economia está novamente
frustrando as expectativas. No primeiro trimestre, a expansão do Produto
Interno Bruto (PIB) foi de 0,6 por cento sobre o período anterior. A inflação
oficial está no teto da meta do governo, acumulando alta de 6,50 por cento em
12 meses até maio.
Para
combater o cenário ruim, a equipe econômica mudou o tom. O Banco Central
iniciou um ciclo de aumento do juro e o governo eliminou parte das barreiras
cambiais existentes.
As
mudanças, no entanto, ainda não foram suficientes para agradar ao mercado
financeiro. E mais uma notícia negativa surgiu com a agência de classificação
de risco Standard & Poor's rebaixando a perspectiva da nota da dívida
brasileira para "negativa", citando preocupações com o afrouxamento
fiscal, entre outros motivos.
"Esse
rebaixamento da perspectiva da nota do Brasil é um sinal de alerta para o
governo de que a opção pela política econômica heterodoxa não deu certo",
disse o estrategista-chefe do Banco WestLB do Brasil, Luciano Rostagno.
"O
problema é que a gente está a pouco mais de um ano das eleições presidenciais,
e o ajuste necessário para restabelecer essa credibilidade junto ao mercado
passa necessariamente pela política fiscal, que sofreu forte deterioração nos
últimos anos."
Há
críticas dentro do próprio governo ao excesso de intervencionismo e estímulos
setoriais seguidos, que estariam deixando empresários em compasso de espera
para investir, na expectativa de também serem beneficiados.
Na seara
política, o governo tem visto a tramitação de matérias que considera
prioritárias tornarem-se verdadeiras novelas no Congresso.
A
arrastada aprovação da medida provisória que criou um novo marco regulatório
para o setor portuário, poucas horas antes de perder validade, e duas outras
MPs que perderam o prazo --a que garantia a redução da conta de luz, uma
bandeira de Dilma, e a que desonerava a folha de pagamento de vários setores da
economia-- acenderam um alerta no Palácio do Planalto.
Os
episódios deixaram expostas as feridas abertas nas relações do governo com a
base.
As
possíveis consequências para o momento ruim do governo já bateram à porta do
Planalto. Uma pesquisa que chegou ao governo em abril mostrou perda de
popularidade da presidente, principalmente entre as mulheres das classes C e D,
um segmento eleitoral importante para Dilma, aumentando a tensão entre os
governistas.
AINDA
FAVORITA
Até o fim
do mês, o Ibope deve divulgar uma nova pesquisa para a Confederação Nacional da
Indústria (CNI) sobre a aprovação do governo.
Essa
sondagem deve balizar os próximos passos de Dilma e de seus prováveis
adversários na eleição do ano que vem --o senador mineiro Aécio Neves (PSDB), o
governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e a ex- senadora Marina Silva,
que tenta fundar um novo partido.
O cenário
atual, embora desfavorável para o governo, ainda indica favoritismo de Dilma na
disputa eleitoral. Isso porque o nível de emprego ainda é elevado e os
adversários da presidente ainda não mostram força.
"A
conjuntura econômica não é boa, não é alvissareira, mas a minha avaliação é que
também não é desastrosa, olhando do ponto de vista eleitoral especificamente
para 2014", disse o analista Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores.
Uma
vitória em outubro do ano que vem, no entanto, não será tão fácil como se
esperava há alguns meses.
"O
que estamos vendo é que 2014 deve ser mais competitivo do que em 2010",
disse o analista Rafael Cortez, da Tendências Consultoria Integrada.
FONTE: Blog Visão da Época